Procurar pessoas e coisas que possam de algum modo contribuir para o melhor conhecimento pessoal, e constituir algo para o maior entendimento das coisas que são ou pertenceram a Albergaria-a-Velha e seu concelho, é tarefa que verdadeiramente nos agrada e sensibiliza.
Sabiamos há anos de que a nossa vila teve um hino que chegou a ser cantado em actos solenes nos Paços do Concelho. Sabíamos também que os anos trinta e quarenta foram para a nossa terra a época de ouro em termos culturais, onde o teatro era representado pelos actores do nosso burgo - alguns de elevada craveira teatral - e onde as filarmónicas e as tunas se faziam ouvir nas noites quentes de verão e nas apoteoses de fim de festa. (...)
D. Mimi, como mais é conhecida, de seu nome Maria Emília de Lima Bastos, natural de Cedofeita na Cidade do Porto, e radicada na nossa vila há já umas boas décadas, recebeu-nos com imensa gentileza, satisfação e amizade. Para ela... nós iamos buscar o Hino, mas tanto nós como o Murça Abrantes, quisemos saber um pouco mais. E falou-se como decorriam as vidas na nossa terra em outros tempos, falou-se de teatro, das "Senhoras", das "Meia Senhoras" e das "Tricanas". Tricanas, que ajunte-se, nada tinham a ver com as tricanas de Aveiro. Mas constituíam uma classe social dentro da nossa vila e perante a sociedade existente, com quem todas as pessoas se davam bem, e donde saíam os encontrões para que a cultura popular andasse para a frente. (...)
Bastante jovem e aluna do 3º ano do Conservatório de Música do Porto, vinha de vez em quando visitar a nossa vila onde angariou amizades, e procurava sempre que possível acompanhar ao piano as peças de teatro então exibidas no local do actual Cine-Teatro Alba, num Pavilhão que lá existia e foi pertença da nossa Câmara Municipal.
E falou-se da peça "Albergaria em Camisa"... como o tempo passa depressa!
Com os seus 72 anos de idade, D. Mimi é sensível e está atenta às coisas de Albergaria, apesar de não ser natural do Concelho. (...)
Conversar com ela torna-se um prazer e a sua memória bem desperta, sabe recordar o Dr. Vasco Mourisca, Álvaro Faca, o poeta espontâneo com versos de fazer chorar, e ainda Eugénio Ribeiro, que deu letra ao nosso hino...e que agora foi recolhida.
Entrega feita e cantarolado com voz de quem tem 72 anos, fica no entanto na fita magnética do nosso gravador material suficiente para que o Grupo de Cantares de Albergaria-a-Velha [filho unigénito do Grupo Foclórico e Etnográfico de Albergaria-a-Velha], o possa reeditar brevemente, como servindo de fundo a solenidades, porque achamos ser extraordinariamente belo uma vila possuir hino próprio, sabendo-se que este tem a chancela da grande figura que foi Eugénio Ribeiro.
Fonte: António José Vinha / Beira Vouga - 10/06/1991
1 comentário:
Por ocasião da inauguração do Cineteatro Alba fui testemunha da conversa de duas filhas da D. Mimi com um dos responsáveis pela exposição. D. Mimi foi professora no Colégio de Albergaria e casou-se com Sertório de Andrade Costa que tinha vindo dos Açores para a Fábrica Alba. Relatavam que caso fosse viva seria uma pessoa que teria muitas histórias por contar sobre o Cine-teatro Alba e sobre a actividade cultural que fervilhava nesses tempos.
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