segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Mártires da Liberdade (1828-1829)
À morte de D. João VI, em 1826, a sucessão do primogénito D. Pedro, então imperador do Brasil, que outorga uma Carta Constitucional aos Portugueses, [e] o regresso de D. Miguel com promessa de casamento com a sobrinha D. Maria da Glória, herdeira do trono (...) [está] na origem do período conturbado em que se sucedem as devassas, as perseguições, os homizios, as prisões, os assassínios e a guerra civil que vão atormentar e martirizar os portugueses e empobrecer ainda mais o país durante seis anos.
Gentes de Albergaria
Também a gente de Albergaria sofreu, no espírito e na carne, as contingências da época, porque aqui havia muitos jovens instruídos que aderiram ao Liberalismo e tomaram parte activa nos movimentos políticos e militares.
Na revolução que irrompeu em Aveiro e no Porto, em 16 de Maio de 1828. entraram vários albergarienses que nela se empenharam directamente, como os irmãos João e Dr. José Henriques Ferreira, o tenente Joaquim Mourão Soares de Magalhães, o tenente Manuel Ferreira da Costa, o alferes Patrício José Álvares Ferreira, o alferes José Ferreira Álvares de Oliveira, o tenente José Bastos, natural da Ribeira de Fráguas, entre outros.
Pelas suas ideias liberais são ainda envolvidos o Dr. João Patrício de Carvalho Álvares e Lemos, médico ilustre do Real Hospital de Albergaria, o Dr. João Ferreira da Costa Sampaio, o boticário Joaquim Antõnio Teixeira, o juiz de vintena José Afonso de Bastos e o proprietário e agricultor Antõnio Constantino de Lemos, além de outros mais de que não se conhecem os nomes.
Perseguições
O fracasso da revolução Liberal de 1828 levou à imediata perseguição de muitos dos seus adeptos e de suas famílias, vindo a instaurar-se um verdadeiro regime de terror.
Muitos albergarienses foram acossados, encarcerados e seriamente afectados, pois logo foi ordenada uma devassa conduzida pelo juiz de fora Dr. José de Sousa Ribeiro Pinto, a fim de se expurgar o meio das tendências contrárias à monarquia absoluta e aos que dela beneficiavam.
Alguns dos civis incriminados pelos depoimentos das seis únicas testemunhas conseguidas lograram escapulir-se aos vexames e condenações, tal como os militares anteriormente citados.
Outros, porém, acabaram por cair na mão dos adversários e foram imolados pelas suas ideias políticas que manifestavam e defendiam sem recato.
Principais vítimas Albergarienses
Foi o caso do Dr. Clemente da Silva Melo Soares de Freitas, de 27 anos, natural de Angeja, juiz de fora nomeado para a Vila da Feira e que então se encontrava em Aveiro, em casa da família, e de João Henriques Ferreira Júnior, de 29 anos, natural de Albergaria-a-Velha.
Acusados de terem tomado parte activa na rebelião e terem difundido as ideias liberais, que convictamente perfilhavam, e de "terem vociferado contra a sagrada pessoa do Senhor D. Miguel", foram julgados em 1829 e condenados a "serem levados com baraço e pregão pelas ruas do Porto até à Praça Nova" onde os enforcaram. (...).
A cabeça de João Henriques esteve colocada em frente à casa de seus pais, na Rua da Calçada, sendo depois sepultada na Capela de Santo António donde veio a ser transladada juntamente com a do Dr. Clemente Freitas e as de outros condenados para um monumento que se encontra no cemitério de Aveiro. Os corpos estão no Prado do Repouso, no Porto, para onde foram exumados em 1878, numa imponente e significativa homenagem aos mártires da liberdade. (...)
Nome de Rua
No final do século XIX, a Câmara Municipal deu à Rua da Calçada, o nome de Rua dos Mártires da Liberdade para homenagear os perseguidos, os encarcerados e sobretudo os mortos em combate e os enforcados pela defesa das suas ideias democráticas.
Fonte: António Homem de Albuquerque Pinho, “Albergaria-a-Velha – Oito Séculos do Passado ao Futuro” (pág. 20) (adaptado)
Nota: Existe em Aveiro uma rua em homenagem a João Henriques Ferreira
Foto: monumento em homenagem ao Liberalismo (Aveiro)
Mais informações: (1), (2)
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