quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Albergaria-a-Velha e os primeiros passos da República

Na vila de Albergaria-a-Velha, excelentemente localizada no entroncamento de duas das principais vias de comunicação do Reino (as estradas reais Lisboa-Porto e Aveiro-Viseu), o movimento republicano limitava-se, até 1908, às ideias republicanas do farmacêutico João Pedro Ferreira e do estudante universitário Adriano de Sousa e Melo.

No entanto, a partir do início desse ano começou a germinar-se um movimento mais alargado, com a participação de diversos políticos do distrito de Aveiro, ficando agendado para o dia 17 de Maio de 1908 o primeiro comício republicadno nesta vila.

Mesmo assim, nas eleições gerais de 28 de Agosto de 1910 a insatisfação do eleitorado do concelho era notória e a oposição obteve cerca de 82% dos votos, contra 17,5% dos governamentais e apenas 0,5% dos republicanos.


Apesar disso, o dia 5 de Outubro de 1910 foi na vila de Albergaria-a-Velha igual a tantos outros. Curiosamente, o Correio d'Albergaria, de 6 de Outubro, apresenta uma gralha no seu cabeçalho, indicando-o como sendo do mês de Setembro, e não faz qualquer referência ao golpe de estado republicano ocorrido na véspera.

O outro periódico existente no concelho, A Voz d' Angeja, de 8 de Outubro, notícia já a mudança de regime, mas fá-lo apenas na terceira página, num pequeno artigo intitulado "À última hora" onde refere a proclamação da República.

Mas a adesão à República em Albergaria-a-Velha não tardaria e no dia 6 de Outubro de 1910, pelas 11.00 horas da manhã, foi recebida na vila a notícia da proclamação da República em Portugal.


Na falta de comunicações telegráficas e postais, pois o que se sabia era por informações particulares, o povo conservou-se indeciso até ao dia seguinte quando se receberam as primeiras notícias oficiais.

Apenas no dia 7 de Outubro, pelas 16.15 horas, alguns rapazes içaram uma bandeira republicana nos Paços do Concelho, atiraram alguns foguetes e a Philarmonica Albergariense percorreu as ruas da vila, um ou outro comerciante hasteou uma bandeira republicana na sua casa, apesar de quase toda a população se ter abstido.

Praticamente todos os titulares de órgãos autárquicos, instituições e associações foram substituídos, apesar de a adesão se ter efectuado, essencialmente, à base de alguns comerciantes, proprietários, professores e da quase totalidade dos funcionários públicos da vila.

Fonte: Delfim Bismarck em Cadernos de apoio "Outras Vozes na República"

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