quinta-feira, 20 de setembro de 2012

História de Albergaria-a-Velha (Gazeta dos caminhos de ferro, 1944)


No seu próprio nome tem Albergaria-a-Velha o certificado da sua origem. Em Novembro do ano de Cristo de 1117, isto é, ano de 1155 da era de César, passava a infanta-rainha D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, nosso primeiro Rei, uma carta de privilégio a Gonçalo Eriz, coutando-lhe a sua vila de Osseloa (hoje o bairro de Assilhó, desta vila), que confinava com terras de Santa Maria (Feira), onde a carta foi assinada.

Demarcações e nomes

As demarcações das terras do Couto de Osseloa são muito interessantes, pela especialidade dos lugares que nomeia, designados já alguns dêles em português no meio do latim bárbaro da carta.

A onomástica topográfica é característica, como se vê pelos seguintes nomes, alguns bem conhecidos ainda hoje: Mata talada, Mata da Ussa, Mata da Brava, Mamoa Negra, Romariz, Rio de Osseloa, Charneca, Fonte Fria (hoje lugar das Frias), que se chamava também Fontinha de Meigonfrio.

Albergaria

A carta de Couto foi concedida com a cláusula de estabelecer e sustentar uma Albergaria próximo da estrada. Gonçalo Eríz presenteou alguns servidores da Rainha, que assistiram à feitura da carta e a assinaram. A D. Mem Bofíno e a Artaldo, escudeíro da Rainha, deu um rocím e a Godinho Viegas um gavião. O primeiro albergueiro ou seja o primeiro habitante de Albergaria de nome Gonçalo de Cristo, seria pôsto pela Rainha.  


Local agreste e perigoso

Para se demonstrar quanto era agreste o território da nossa vila, e a ela circunjacente, bastará notar que a carta de Couto dá fé da existência de veados, corças, gamos e ursos. As albergarias eram utilíssimas instituições de previdência, ponto de refugio dos viandantes que se viam perseguidos pelas quadrilhas de malfeitores de tôda a espécie que infestavam o país naqueles rudes tempos medievais. Na carta de Couto declara-se que o sítio onde se fundava a Albergaria era escolhido de preferência pelos salteadores, que ali vinham roubar e matar os transeuntes.  

Cópia autêntica

A carta de Couto não existe no original mas em cópia autêntica, incluída em outra do Bispo de Coimbra, D. Egas, datada do ano de 1258. Publicou-a João Pedro Ribeiro a pág. 243, do 1.° volume das suas «Dissertações cronológicas» (Doc. n.° XXXVI).

Hospital

A primitiva Albergaria foi-se transformando e passou a chamar-se hospital, instalado em uma casa baixa, que foi modernamente a cadeia pública. Na parede exterior dessa casa estava a seguinte lápida, do século XVII.

«A casa do hospital, servindo de cadeia, foi vendida pela Câmara Municipal, em 10 de Setembro de 1905, pela quantia de 1.050$00, ao falecido sr. João Patrício Alvares Ferreira, que ali edificou parte do seu conhecido palacete da Boa Vista e que a actual vereação adquiriu destinando-o à habitação dos magistrados desta comarca.»

A lápida foi depois incrustada no interior do edifício das novas cadeias, de onde saiu para os Paços do Concelho, onde se encontra.


Alexandre Herculano

Esta carta do Couto de Osseloa, no dizer de Alexandre Herculano, é o primeiro documento em que Portugal figura com o título de Reino, e daí o alto valor histórico que se lhe atribui.

«... e Albergaría, possivelmente a mais antiga do País e a que, por isso mesmo, se deu o nome de Albergaria-a-Velha, continua a transformar-se, a progredir e, acompanhando, a par e passo, o movimento de forte impulsíbilidade que há onze anos a esta parte imprimem ao País os continuadores do patriótico movimento de 28 de Maio de 1926, aquele solo agreste e quási ínhóspito é duma, fecundidade exuberante e de tais recursos agrícolas e pecuários que bem pode dizer-se que, em relação aos seus habitantes, se basta a si próprio, visto que dêle se extrai ou nêle se cria, com suficiência, milho, trigo, arroz, batata, vinhos, legumes, hortaliças, e aves de espécies diversas e gado bovino, suíno, caprino e lanígero, cujos mercados e feiras são abundantes.»

Fonte: Gazeta dos caminhos de ferro (adaptado)

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