sexta-feira, 11 de abril de 2014

Recuperação do Moinho do "Ti Miguel" no Fontão (2010)


O restauro do velho moinho, situado no fundo do vale de Azenhas do Fontão, surgiu por iniciativa de Joaquim Almeida, neto do “Ti Miguel”, o antigo proprietário e “patrono” desse velho moinho de água, não com o objectivo de se dedicar à moagem mas “por carolice”.

Como também nasci nisto, o moinho está no sangue”, diz Joaquim Almeida, até porque “nos dias de hoje já não compensa moer temos outras actividades”. O actual proprietário do Moinho do Ti Miguel sublinha que a recuperação obedeceu às “normas de antigamente”, ainda que o número de “casais de mós” (pares de mós: a de baixo e a de cima) tenha sido reduzido de quatro para dois, o que mesmo assim dá “para manter viva esta tradição dos moinhos e dos moleiros no Fontão”, que era a actividade dos seus antepassados e familiares.

Assinatura do protocolo (Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha) (2009) (AF)
 Antigamente, e como afiança Joaquim Almeida, neste moinho, que “era um moinho alveiro e três rodas normais”, com quatro rodas e os respectivos pares de mós, “moía-se de tudo: trigo, milho e, inclusive, descascava-se arroz. Fazia-se aqui o que normalmente se fazia em todos os moinhos de antigamente”.

Ao lado do moinho e do tanque de água que abastece as rodas do moinho, erguem-se as ruínas da antiga casa de habitação do “Ti Miguel”, imóvel que Joaquim Almeida também pretende restaurar, de acordo com a construção original, ainda que “não haja subsídios de lado nenhum para restaurar estes imóveis”.
 

Na Ribeira do Fontão já só restam dois ou três moinhos ainda a funcionar, o resto está degradado, realça Joaquim Almeida, que possui um levantamento de todos os moinhos que existiam ao longo desse curso de água.

Para montante, ainda havia pelo menos mais dois “casais de mós”, um dos quais foi destruído e o outro é “do Dr. Jorge França”.

Para além destes moinhos, Joaquim Almeida possui outros, que também pertenceram a familiares, situados nas margens do Rio Caima, na Freirôa.



Ainda há moinhos na Cova do Fontão 

Na Cova do Fontão, lugar situado no fundo de um vale, a “meio caminho” entre a estrada principal e o lugar da Azenha do Fontão, a jusante do moinho do “Ti Miguel”, ainda existem alguns moinhos, incluindo os do Sr. José, junto à recuperada “Quinta do Moinho”, que Joaquim Almeida pensa serem os únicos que ainda funcionam como antigamente, uma vez que “ele ainda é moleiro a tempo inteiro, é a sua profissão. Ainda mói para fora”.

Para recuperar o seu moinho, Joaquim Almeida teve de recorrer a “algumas pessoas de idade que ainda vão fazendo alguma coisa nesta área. Já não são muitos, mas os que há vão fazendo isto com muito gosto e dedicação”. Como Joaquim Almeida nasceu no seio de uma família de moleiros, também sabe fazer alguns trabalhos de restauro de rodas e de picagem de mós.

Esquema de Azenhas

Foi assinado em Maio de 2009 o protocolo de entrega de um valioso documento à guarda do Arquivo Municipal de Albergaria-a-Velha. Trata-se de um esquema representando os açudes, as levadas e os moinhos então existentes ao longo da Ribeira do Fontão, com a sua localização, proprietários, moleiros e número de rodas (casais de mós), o qual nos ajuda a traçar o retrato do que seria esta comunidade no inicio do século XX.

Este importante e raro documento, que se presume datado do início do século XX, terá pertencido a Miguel da Silva, proprietário e moleiro de um dos moinhos aí referenciados. Actualmente encontrava-se na posse de sua filha, Maria Alice Santos da Silva (mãe de Joaquim de Almeida), moleira, residente na freguesia de Salreu, concelho de Estarreja.

Fontes/Mais informações: Cardoso Ferreira em Correio do Vouga  / Moinhos de Portal.no.sapo (Armando Ferreira) / Cagaréus.blogspot / Moinhos do Fontão (curta metragem)
  
 

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