sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Castelo e Palacete da Boa Vista - O início das obras


A quinta, castelo e palacete da Boa Vista situam-se na Praça Rainha D. Teresa (antiga Praça Velha) em Albergaria-a-Velha e foram mandados edificar no final do século XIX pelo capitalista João Patrício Álvares Ferreira.

Esta construção, considerada a melhor do concelho de Albergaria-a-Velha e uma das mais sumptuosas do distrito de Aveiro da sua época, foi executada e projectada por Joaquim António Vieira, numa “propriedade com boa orientação e disposição situada num ponto elevado, de onde se desfruta um belíssimo panorama, especialmente pela sua parte posterior, vendo-se, a grande distância, serpenteando a estrada para Viseu”. (...)


Evidenciando arrojo e iniciativa ao lançar-se numa construção destas dimensões para sua habitação de férias, João Patrício Álvares Ferreira utilizou parte de um terreno denominado “Quinta da Boa Vista”, propriedade de sua mãe, D. Matilde Angélica Álvares de Carvalho, e uma outra propriedade onde se acha construído o palacete que foi por ele comprada em 1893 a privados e em 1895, em hasta pública, à Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, quando então aí existia a cadeia da comarca de Albergaria-a-Velha e o que restava do extinto Real Hospital de Albergaria.(...)

Em 10 de Setembro de 1895, João Patrício arrematou, em hasta pública, pela quantia de 1.050$000 reis o edifício que até 1834 tinha servido de hospital (mais conhecido por Hospital Novo), oficialmente conhecido por Real Hospital de Albergaria, que servira desde 1835 de Tribunal Judicial do Julgado de Albergaria-a-Velha.


A Câmara, na altura presidida pelo Dr. João Eduardo Nogueira e Melo, decidira vender o degradado prédio, que já não oferecia qualquer segurança, tentando retemperar as dificuldades financeiras abaladas pelo surto de obras municipais do último decénio. (...)

Em 23 de Maio de 1896, pelas 4 horas da manhã, foram os presos removidos para uma cadeia provisória sita na Calçada. A adaptação do edifício a cadeia e o arrendamento da casa por dois anos foi por conta do arrematante João Patrício, que para isso se ofereceu. Esta nova cadeia era na casa de Maria Marques, mais conhecida por “Maria da Estalagem”, que depois ficou para Manuel Oliveira Campos Júnior, o qual a vendeu a José Pereira de Lima, de Valmaior, que aí edificou a sua residência.


Ainda em Agosto de 1896, vieram mineiros para desentulhar a mina de água e trabalhadores para remover terras e desmanchar o muro da adega, ao pé do portão, para dar mais largura à entrada. E no final desse ano João Patrício contacta o conceituado desenhador e construtor lisboeta Joaquim António Vieira, convidando-o a projectar um palacete a edificar em Albergaria-a-Velha. Esse palacete, deveria ter no rés-do-chão uma farmácia e, anexa a este, uma parte acastelada. (...)

O palacete tem no seu frontão esculpida a data de 1900. A fachada principal, voltada para a Praça D. Teresa, mede 22,30 m., a da Rua do Hospital 20,90 m. O castelo (torreão), mede do lado da mesma praça 16,90 m., e tem na sua maior largura 7,30 m. (sendo a regular de 6,05 m.), no seu maior comprimento 19,60 m. e de altura 21,0 m. (...)


Em 22 de Novembro de 1902, a lápide do antigo Real Hospital foi entregue à Câmara Municipal por João Patrício. A câmara não a queria aceitar de modo algum, alegando que não tinha onde a colocar e sugerindo que João Patrício a colocasse na frontaria de sua casa. Valeu a intervenção de Patrício Theodoro Álvares Ferreira, que em sessão camarária apresentou os motivos da importância daquela inscrição e solicitou que a mesma fosse depositada no edifício da nova cadeia onde servisse de origem a um pequeno museu. (...)

O rés-do-chão (lojas) foi construído com o propósito de aí vir a ser instalada uma farmácia, cujo mobiliário foi projectado pelo autor de todo o projecto e viria a ser executado por José Gomes Soares. Essa farmácia era destinada ao boticário albergariense amigo de João Patrício, João Pedro Ferreira, o qual, em Abril de 1904, escreveu a João Patrício informando-o da recusa em aceitar a botica no rés-do-chão do palacete, contrariando o que anteriormente haviam combinado. (...)

Exposição patente na Biblioteca Municipal (até 03-07-2014) por ocasião do 1º aniversário da sua inauguração

E em 1910 mandou decorar a sala de jantar com pinturas saídas do atelier Domingos Costa, de Lisboa, onde se destacam as “Quatro Estações”. (...)

Relativamente aos tectos do primeiro andar, foram todos executados em estuque. O autor desses trabalhos foi Domingos Afonso Simões, e os fingidos de madeira, pedra e pintura, foram feitos por João Pedro Fernandes Colarinha, ambos vindos propositadamente de Lisboa. (...)

Fonte: Dr. Delfim Bismarck Ferreira, "O Castelo e Palacete da Boa Vista, em Albergaria-a-Velha" (nº 8 da Revista Patrimónios, da ADERAV) (adaptado)

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