sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Evocação da memória de Jacinto Martins (1944-2011) (por Dr. Mário Jorge Lemos Pinto)


Lembro-me do Jacinto era ele, ainda rapaz, aprendiz de barbeiro, em Campinho, na barbearia do Manuel, ali quase em frente ao que hoje é a pastelaria Chaimite.

“Reencontro-o” bem mais tarde, em 1973, quando comecei a dar aulas nos cursos nocturnos de Comércio da Secção de Albergaria-a-Velha da Escola Industrial e Comercial de Oliveira de Azeméis, que então funcionava nuns edifícios toscos do que fora o Bairro Napoleão (e onde hoje está o edifício da Secundária). O Jacinto foi meu aluno de História, um bom aluno.

Já não me recordo se antes ou depois do 25 de Abril de 1974 (mas se foi depois, pouco foi), o Jacinto foi o primeiro a colocar-me questões sobre a luta de classes e o marxismo, assuntos que, embora me fossem familiares na Universidade de Coimbra que eu então frequentava, estava longe de suspeitar que pudessem ser aflorados num curso nocturno, em Albergaria.


Associação ao Movimento de Esquerda Socialista

Por isso não foi de admirar que logo então o Jacinto Martins aparecesse militantemente associado ao MES (Movimento de Esquerda Socialista), um partido conotado com uma certa esquerda intelectual e bem pensante, onde se destacavam figuras como Jorge Sampaio e Ferro Rodrigues.

O Jacinto, o Alberto Gonçalves, de Angeja, e o Celso Cruzeiro, de Aveiro, foram os cabeças de cartaz de alguns comícios (no Ciclo Preparatório e no salão dos Bombeiros) do MES, nomeadamente na campanha para a Assembleia Constituinte.

Entretanto, o Jacinto Martins foi eleito para a Comissão Directiva (já não sei se a designação era esta) da Secção da Escola Industrial e Comercial de Albergaria, como representante dos alunos dos cursos nocturnos. Faziam ainda parte Alberto Soares Pereira, Damião, Olga Andrade e eu próprio, pelos professores, o Manuel Gomes, pelos funcionários, e um representante dos alunos de dia, que não me recordo quem foi.


Adesão ao Partido Socialista

Com o esfriamento dos ardores revolucionários, após o 25 de Novembro de 1975, o MES entrou em balanço, encerrou actividades festivamente, com um almoço nacional, e o Jacinto aparece no Partido Socialista, como aliás muitos dos seus compagnons de route, integrando a sua ala esquerda, e cujos principais corifeus foram precisamente Sampaio e Ferro.

Foi como militante do PS que Jacinto Martins passou a assumir um papel muito interventivo nas nossas autarquias, primeiro como membro da assembleia municipal, depois como membro da junta e da assembleia de freguesia. Fê-lo continuamente, creio bem que por 20 anos, pelo menos.


Intervenções cívicas

A par da sua intervenção partidária e autárquica, que sempre sobraçou de forma voluntariosa e empenhada, nunca ele descurou intervenções cívicas para que foi solicitado, e muitas elas foram, seja nos órgãos directivos dos clubes e associações, seja em qualquer comissão de pessoas de boa vontade que se tivesse de formar para uma festa, ou um evento.


O jornalismo

Entretanto, uma outra mais passou a ser a sua actividade, a escrita nos jornais. O Jacinto tornou-se correspondente de grande parte dos jornais, embora mais associado ao Jornal de Notícias. Em virtude da sua rede de informadores e dos seus conhecimentos pessoais, ele estava em cima dos acontecimentos do nosso concelho, dando deles notícia rápida, pronta e fiel.

Esta sua faceta de jornalista (jornalista com carteira profissional) proporcionou-nos um contacto mais amiúde, pois o Jacinto passou a ser o principal colaborador do Jornal de Albergaria desde a sua (re)fundação, em 1993, chegando a ser o seu sub-director. Números houve do jornal, que eram praticamente todos escritos por ele, para desagrado (injusto) de uns quantos, que nunca lhe apreciaram a sua dinâmica e a energia.


Voluntarismo

É extraordinário como o Jacinto estava sempre pronto para qualquer actividade ou iniciativa! Fosse no PS, na UGT, nas autarquias, nos clubes e associações de Albergaria, fosse nos jornais, escrevendo algumas linhas apressadas sobre algum acontecimento, cobrindo este ou aquele evento, do desporto ou da política – para isso, e como eu lhe disse algumas vezes, com a confiança e à vontade que havia entre nós, ele de facto não tinha “perna manca”. Tinha, aliás, na sua Mulher uma companheira desvelada e constante.


Homem de paixões

A política (incluo aí o PS, a UGT, as autarquias), os jornais e as coisas da sua terra eram a suas grandes paixões.

Mas eram paixões que ele cultivou, e para as quais se preparou culturalmente, estudando e lendo. Fez-se a si próprio, certamente com muito esforço, mas com muito mérito. Sabia ouvir, e por isso tinha opiniões bem estruturadas e fundamentadas. (...)

Fonte: Dr. Mário Jorge Lemos Pinto (em facebok) (n/ intertítulos)


Mensagem do jornal Soberania do Povo

Jacinto Martins, de 67 anos, colaborador assíduo da Soberania do Povo, faleceu ontem, vítima de enfarte do miocárdio.

Antigo funcionário da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, era dirigente da Associação de Futebol de Aveiro, secretário-geral do Sindicato do Comércio, Serviços e Escritórios de Aveiro e jornalista há várias décadas.


Extracto de depoimento de Pedro Neves (antigo colega no Diário de Aveiro)

Durante uma década em que tive o privilégio de trabalhar para o Diário de Aveiro, pude contactar com o Jacinto e não tenho duvidas em afirmar que morreu o jornalista mais versátil da nossa região!

O desporto era uma área em que se sentia completamente à vontade, mas Jacinto Martins era muito mais abrangente como comprova o facto de colaborar com jornais como o Soberania do Povo, Jornal de Albergaria, Diário de Aveiro ou Comércio do Porto, por exemplo.

Sempre tive para com Jacinto Martins, uma relação de muito respeito. Por tudo aquilo que ele sabia do futebol aveirense, pela quantidade impressionante de contactos que ele tinha para poder desenvolver a actividade jornalista como só ele conseguia, mas acima de tudo, pela lealdade e generosidade que sempre revelava para com os colegas.

Homem dos jornais

Durante mais de 25 anos, foi colaborador do jornal Soberania de Povo. Colaborou também nos jornais Arauto de Osseloa, Beira-Vouga, Jornal de Albergaria, Jornal de Notícias, Diário de Aveiro, Gazeta dos Desportos, entre outros. Também foi autor de programas na extinta Rádio Osseloa.

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