sábado, 19 de janeiro de 2019

100 anos da Monarquia do Norte (1919-2019)


A Monarquia do Norte foi uma contra-revolução ocorrida na cidade do Porto, em 19 de Janeiro de 1919, pelas juntas militares favoráveis à restauração da monarquia em Portugal em plena 1ª Republica portuguesa. Durante este breve período, também apelidado de "Monarquia do Quarteirão" por só ter durado 25 dias (de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro), foi instalado um governo provisório no Porto, encabeçado pelo militar exilado Paiva Couceiro.

A Monarquia do Norte ficou também conhecida como “Reino da Traulitânia” ou “Guerra dos Trauliteiros”, forma como eram apelidadas as milícias monárquicas, pela facção republicana.

A Coluna Militar Mista do Sul, comandada pelo tenente-coronel de Artilharia João Carlos da Cunha Corte-Real Machado partiu do Porto a 22 de Janeiro e proclamou a Monarquia em Ovar (23 de Janeiro), Estarreja e Albergaria-a-Velha (24 de Janeiro), sendo travada às portas de Águeda, exaurida de reforços, munições, calçado e pitança.(…)


Vitoriosos em Lisboa, os republicanos e o Governo da República apertaram o cerco, mobilizando voluntários civis e colunas militares comandadas pelos generais Abel Hipólito e Alberto Mimoso da Costa Ilharco em marcha forçada com destino ao Norte do País. Depois de fugazes escaramuças e recontros, em especial em Águeda e em Angeja, a breve Guerra Civil iria terminar com a derrota da hoste monárquica, com numerosos actos de valentia de parte a parte.


 No rio Vouga situou-se a zona de fronteira entre monárquicos e republicanos, ficando Estarreja ocupada por tropas partidárias da monarquia de 24 de Janeiro a 11 de Fevereiro. Durante parte desse período esteve sediado em Estarreja um centro regional de operações militares e um quartel general, mantendo-se cortadas as ligações com o sul, nomeadamente Aveiro.


Os republicanos reocuparam Estarreja (11 de Fevereiro) e Oliveira de Azeméis e Ovar (12 de Fevereiro), e os combates prosseguiam ainda na Ponte de Entre-os-Rios e Paços de Ferreira. Apesar dos últimos esforços na frente de batalha em Lamego e no Vouga de Paiva Couceiro, esforçado paladino dos seus ideais, com tão parcos meios e sem bocado de pão para trincar pela soldadesca, a defesa da Monarquia e do Porto era caso de extrema complexidade, percebeu de salto que a causa estava perdida. A manta era curta, destapava os pés quando cobria a cabeça.

No norte, no Porto, a revolta só terminou a 13 de Fevereiro. Neste dia, após combates em todo o litoral centro, nomeadamente em Angeja, a guerra civil termina com a entrada dos exércitos republicanos no Porto.

Fontes: Jofre de Lima Monteiro Alves / wikipedia  / Imagens: Revista Ilustração Portuguesa / Gbliss 


Entrevista a Couceiro Costa, Ministro da Justiça do Governo Republicano

O moral das tropas é o mais animador que pode ser. É elevado e a vontade de todos é marchar, marchar sobre os insurrectos. Dificilmente são contidos na sua ânsia de castigar os aventureiros do Norte [...]

Visitei todos os quartéis-generais e postos avançados. Enfim, toda a frente desde Angeja até ao Caima. A zona de operações está dividida em dois sectores, a saber: Angeja e Albergaria-a-Velha [...]

Hoje, a República, que simboliza a Pátria, está arreigada no espírito do povo a tal ponto que dentro em breve, talvez até mais breve do que julga, todo o território da República estará livre dos aventureiros monárquicos.

Fonte: Jornal "A Capital" (12-01-1919)(1)


Trauliteiros em Angeja

Na madrugada de domingo, dia 30 de Janeiro, as tropas avançadas dos monárquicos entram na vila, segundo relatos da época, arrancando das esquinas das ruas, todas as placas de toponímia com denominações republicanas que iam encontrando. Concentram-se na Praça da Republica, de onde partem para tomar várias posições estratégicas. Alguns edifícios particulares são ocupados.

Muito embora não existam registos, diz-se que na hoje denominada Casa do Alambique esteve o próprio Paiva Couceiro, aquando da sua visita a esta zona.

A zona (Marridas) onde se realizará este evento, foi a zona onde se posicionaram algumas das Forças Republicanas e de onde foram feitos alguns ataques às forças inimigas, que tinham entrado na Vila.

Na Afeiteira outro dos limites da freguesia foram travados duros e violentos combates, ali os monárquicos sofrem algumas baixas, entre elas, o Major Taborda que tinha familiares nesta região, uma espada e um revólver que se julga ter pertencido a um oficial, foram ali recolhidos após o combate por um popular, encontrando-se hoje perfeitamente preservados.

Fonte: Geocaching "Trauliteiros em Angeja"


Pessoas ligadas a Albergaria-a-Velha

O Dr. Francisco António de Miranda (1863-1934) foi um dos mais destacados aderentes da "Monarquia do Norte" no nosso Concelho, tendo inclusive sido nomeado Administrador do Concelho neste período.

O Major Taborda (Antero Eduardo Taborda de Azevedo e Costa), natural de Penamacor e casado com uma albergariense, a D. Aida de Sousa e Melo, integrou a expedição monárquica de Janeiro de 1919 denominada “Monarquia do Norte”, tendo sido assassinado a tiro no dia 29 de Janeiro de 1919, em Angeja, por ferimentos recebidos em combate, quando comandava uma coluna militar.

Fontes: ""Gente Ilustre em Albergaria-a-Velha" de António Homem de Albuquerque Pinho / "Albergaria-a-Velha 1910-da Monarquia à República" de Delfim Bismarck Ferreira e Rafael Vigário (adaptado)
  
 

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