quinta-feira, 4 de novembro de 2010

100 anos da Monarquia do Norte - "Notas de um voluntário civil nas margens do Vouga" (para a história da Traulitânia) de Raul Tamagnini (1921)



Dia 24-01-1919

Vi também e abracei o meu antigo discípulo alferes Roby [futuro Tenente Roby ou Robi], já considerado com justa razão um verdadeiro herói, pois foi ele que susteve com uma pequena força de cavalaria, do seu comando, em Albergaria-a-Velha, o embate dos trauliteiros, prendendo diversos, entre os quais o chefe do mais importante grupo, o célebre Bento Garrett, José Vilas Boas e Joaquim da Fonseca, que vinham com outros em 30 automóveis para proclamar a monarquia naquela vila e outras terras.

Dia 25-01-1919

Entretanto o café [Cisne da Arcada, em Aveiro, onde se reuniam todos os republicanos, civis e militares] estava animadíssimo. Oficiais e sargentos entravam e saiam a miúdo. Para os lados de Albergaria tinha havido diversas escaramuças e os nossos tinham feito passar maus quartos de hora aos monárquicos.

O tenente Roby, comandando uma pequena força de cavalaria, seguiu para Albergaria-a-Velha, onde se erguia já a bandeira monárquica, que foi arrancada e despedaçada pela multidão.


Dia 28-01-1919

Na montra via-se também uma bandeira monárquica que tinha sido arriada e apreendida pelo alferes Roby com a sua força de cavalaria em Albergaria a-Velha, onde ele tinha obrado prodígios

Os nossos tem causado muitas baixas no inimigo e tudo parece indicar que ele se prepara para abandonar Angeja. Civis e militares do nosso lado mantêm uma admirável presença de espírito e, cousa extraordinária, constatam-se apenas dois feridos.

Informaram-nos também uns oficiais de que era provável que nesse dia, os nossos passassem para a margem direita do Vouga, pois o tiroteio tinha sido de manhã bastante intenso e constava que eles se preparavam para abandonar Angeja.

Dia 30-01-1919

No combate de ontem em Angeja, foi mortalmente ferido por uma bala o comandante monárquico, major Taborda, conhecido pelo Tabordinha. Este indivíduo era o mesmo que estava na carreira de tiro em Esmoriz, quando eu ali estive de passagem, encontrando-se lá também o major Manuel de Almeida, irmão de João de Almeida.

"No sector de Cacia. - Um troço de revoltosos estabeleceu-se entre as povoações de Angeja e Frossos, ao norte de S. João de Loure, atirando sobre as pontes que começamos a reparar, sem nos molestarem.

As tropas republicanas ocupam Albergaria-a-Velha possuídas do maior ardor combativo. A população civil conserva-se admirável de calma, prestando toda a cooperação às nossas forças em combate.


Dia 31-01-1919

Ocupamos Frossos e, no sector de Cacia, Angeja foi também definitivamente ocupada por nós.

De tarde, fora aprisionado um malandrete, no sector de S. João de Loure, que trazia consigo um embrulho de estriquinina, confessando vir incumbido da missão de a lançar sobre as nascentes de água e ranchos das nossas tropas! Hediondas criaturas!

Dia 01-02-1919

Disseram-me constar que o Paiva Couceiro exclamara ao retirar-se de Angeja com os seus, numa verdadeira fanfarronada espanhola: "Digam aos republicanos que retiro de Angeja, mas que os espero no Porto, onde faremos as contas".

Dia 03-02-1919

O alferes Roby, em Albergaria, prendeu dois oficiais que do Porto iam parlamentar e grande número de bandidos do "Rial Grupo", com bentinhos, bandeiras e espingardas.

Fonte: Extractos do livro  "Notas de um voluntário civil nas margens do Vouga" (para a história da Traulitania) de Raul Tamagnini (1921) (1) / Fotos: Revista Ilustração Portuguesa

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