sábado, 20 de julho de 2019

Maria Helena Matos - de Angeja para Moçambique ...

Maria Helena Matos e o marido António Matos Ferreira

Maria Helena Matos nasceu em Angeja, a 22 de Dezembro de 1935. Aos 17 anos vai com a família para Moçambique. Esteve no Chibuto, depois Lourenço Marques onde conhece os pais de Maria Rueff. Estes vivem na Beira e tempos depois querendo trabalhar, decide afastar-se da família e ruma à Beira. Fica em casa dos pais de Maria Rueff e cuida dos irmãos dela. Depois consegue fazer uns programas para a Rádio PAX para a locução de Eugénio Corte Real.

Na casa dos Rueff vem a conhecer António de Matos Ferreira, nascido em Cantanhede a 16 de Abril de 1942, que vai fazer o serviço militar a Moçambique, na Força Aérea, e que começa a fazer um programa na Rádio PAX, "Alvorada Musical". Quatro anos depois vão para Lourenço Marques. Em 1965 montam a Agência de Publicidade Arco-Íris, que começa com uma campanha publicitária para a Gazcidla.


Iniciam programas no RCM (Rádio Clube de Moçambique) como o "Paralelo 26", "Tempo de Juventude" e "Parada de Malucos", em que o radialista Luís Arriaga também faz locução. Vão lançar vários discos novidades como "Amor Novo" de Luís Rego. Têm concursos de quadras à cidade em que dois dos mais ferozes concorrentes são Maria José Arriaga e João Gouveia que disputam normalmente os primeiros lugares. Têm também a "Caravela da Saudade", programa que inclui pedidos e mensagens das tropas.

Tornam-se empresários, contratam artistas Sul Africanos para vir cantar a Lourenço Marques, como o caso de Cornelia e Gene Rockwell, no cinema S.Miguel. A Banda Diplomática preenche a 1ª parte e os uniformes são patrocinados por eles. Helena é muito dinâmica e não para quieta. Tem a ambição de querer fazer mais e melhor e promover o meio musical moçambicano.

O logotipo da LM discos no canto superior esquerdo

Em 1971 decidem avançar com uma editora discográfica, fazem contratos com a Movieplay e outras editoras para serem suas distribuidoras, lançam o sêlo (etiqueta)  LM discos, cujo logótipo é desenhado por João Pedro Gouveia. Dos discos lançados contam-se um excelente álbum dos Osibisa, os EPs da Pandilha e muitos outros artistas.

Dos locais, o 1º single de Amélia Muge, com o tema "Natal", um lindíssimo e excelente trabalho, da autoria de Reinaldo Pereira e Raul Baza, um single de Zito e o lançamento de novos grupos como os Adagio Vocal, que tiveram bastante sucesso com "Mamana Joana", e Zé Luís e Midda com "Sargaceiro". No fado também lançaram Carlos Macedo, Américo Fernandes e Alves Salgado.



Além da Etiqueta LM (de Lena Matos ou Lourenço Marques, como era mais conhecida) tinham ainda o sêlo Afro Som. Os rótulos dos primeiros discos tiveram de ser colados à mão devido a dificuldades de prensagem iniciai. Depois tiveram que ir prensar os discos à África do Sul por causa dos impostos exagerados que eram cobrados aos discos. Uma edição tinha normalmente 500 exemplares. Muitas capas foram desenhadas por António Matos, como os discos de Amélia Muge e dos Adágio.

Após o 25 de Abril as dificuldades de negócio multiplicam-se e acabam por ter que vir para Portugal sem que as dezenas de empresas que lhes deviam lhes pagasse e sem conseguirem trazer nada. Ficou um armazém com mais de 20 mil discos de mais de duas centenas de artistas.

O casal, ainda em Moçambique, com uma das filhas

"Em Portugal passámos as passas do Algarve, bastantes dificuldades nunca desistindo" diz Lena. "Como por aqui as coisas não melhoravam, consegui convencer o meu marido a irmos para a Suíça" continua Lena, "estivemos por lá 22 anos, ainda trabalhei na casa de um milionário como Governanta durante 4 anos, mas o António também trabalhava nas fábricas dele e foi subindo até ter posições de chefia. Tinha que viajar muito. Deixei de trabalhar e acompanhava-o".

"Depois viemos para Coimbra onde tinha uma casa. Vendi-a e comprei aqui na Lousã. Na Suíça o António começou a dedicar-se muito a sério à pintura e chegou a fazer exposições em vários Países como a França, Espanha e Alemanha. (...) [E, hoje em dia,] tem feitos muitas exposições desde Cascais ao Norte mas especialmente aqui na zona de Coimbra".

Fonte: Onda pop (João Pedro Gouveia) (adaptado)

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