domingo, 20 de setembro de 2020

Casa de Alcino Soutinho em Albergaria-a-Velha


O casal Vidal conheceu o arquitecto Alcino Soutinho através dum amigo em comum, o Dr. Rui Marques (antigo Presidente de Câmara de Albergaria-a-Velha), que já contara com a colaboração do famoso arquitecto na restauração da sua casa [Quinta das Cruzes] . O qual lhes pede para estabelecerem contato com Soutinho, para que “Albergaria tenha casas com importância e que traga valor à terra”.
 
Carlos Vidal comprara em 1985 um terreno que pertencera a um seu tio-avô, com 1250 metros quadrados, que se destinava à construção da sua habitação. A casa é de 1990 mas só foi concluída em 1999. A casa é constituída por três pisos, distribuindo a área social no piso térreo, a área privada no piso superior e destina o piso da cave para ser utilizado como espaços de serviço e salões polivalentes.


Inicialmente a casa era para ser branca, o arquitecto foi a um congresso em Itália, e perguntaram-lhe a cor, e ele falou em branco e houve críticas ao branco e disseram para ele não a pintar de branco, que a casa ficava com outro ser completamente diferente. No perfil da rua, o tom cor-de-rosa sobressai das restantes edificações, não existindo relações cromáticas, nem volumétricas, valendo em si pelo objeto arquitectónico. As formas assumem uma simplicidade aparente, que se complexificam assim que se observa com maior detalhe as proporções e ângulos que articulam elementos construtivos com características formais.

Aquando da construção da habitação, teve uma má recepção pelos habitantes de Albergaria-a-Velha. Tal como conta Carlos Vidal, a casa foi construída na altura do Saddam Hussein. A casa foi polémica, os vizinhos chamaram-lhe de bunker. Na altura os filhos do casal, que andavam na secundária, chegaram a ser apelidados de filhos dos “terroristas”. 


Do livro “Conversas com Arquitetos" 

Das histórias que foram contadas pelo arquiteto e eternizadas através do livro de “Conversas com Arquitetos", de Nuno Lacerda, Soutinho conta uma história acerca do casal Vidal, proprietários da Casa de Albergaria-a-Velha. 

“(…) fiz uma casa (…) que era um casal, constituído por um senhor muito simpático que era funcionário superior de um banco e a mulher que era médica dentista. E que me chegou lá e disse: “senhor arquiteto, a única coisa que eu queria é que o senhor me fizesse uma casa com telhado, eu não posso com os caixotes”. Eu disse logo que sim, até porque eu tenho muito respeito pela telha, que é um material tão digno como qualquer um. 


Depois, traziam-me também um clássico, que era uma folha rasgada de uma revista com uma casa qualquer. Eu disse: “sim senhor, não tenho qualquer problema”. E então fiz um projecto que é uma casa que tem os telhados todos a descer para o interior da casa que depois tem um núcleo central. Portanto, quando se está de fora só se vê o limite, a cumeeira. Portanto, são telhados que convergem nesse núcleo, que é o centro da casa. 

Eu cheguei, mostrei uma maqueta, falámos sobre isso e a senhora ficou a olhar para mim e disse-me assim: “o senhor arquiteto fintou-me”. E eu perguntei-lhe: “mas porquê?”. E ela disse: “porque fez um telhado mas não fez…”. E eu disse: “então, mas está cá a telha, está cá o telhado, se queria assim ou assim, e eu gosto mais assim”. E achei graça, depois deu-se uma relação muito interessante”. 

Fonte: Dissertação de Ana Rita Moreira (1)(2) (mais informações em blog "Novos Arruamentos")  

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