terça-feira, 17 de agosto de 2010

Nossa Senhora do Socorro (Brochura 1950) (II)

2. O Presente. (1950)

Ergueu-se a capela e fez-se a sua inauguração com o entusiasmo que brotava da fé intensa dos que viveram dias de tamanha amargura e anseio, crentes no milagre da Virgem. Havia que prosseguir nas manifestações em honra da Senhora do Socorro, a cuja intercessão recorriam, de ora avante, todos os que vivessem horas aflitivas, para que a sua dor se debelasse.

Nos anos seguintes e em número sempre crescente, os devotos acudiam em romagem de piedoso agradecimento pelas mercês recebidas e trazendo as dádivas em cumprimento de promessas.

Começou então a conhecer-se o Bico do Monte, ficando-se surpreso com o vastíssimo panorama que dele se desfrutava, fosse qual fosse a direcção para onde se alongasse a vista.

Panorama

Ao poente, os pequenos montes de sal de Aveiro, com a brancura da pureza das almas recolhidas em silêncio, – o Farol da Barra, – as águas do mar, brilhando ao dardejar do sol, estendiam-se pelo horizonte sem limites, até nos darem a sensação de que terminavam onde começava de erguer-se a cúpula do céu. Os canais, a ria com os seus minúsculos barquitos, de velas brancas que o vento inflava e as praias e povoações, parece que não era a inveja pela grandeza com que a Providência nos dotou.

A sul, a dois quilómetros, notavam-se os contornos da nossa vila, os seus edifícios e uma ou outra janela aberta, donde se desprendia o sorriso duma mulher graciosa e quem sabe se o adejar dum lenço em saudação correspondida. Saudação à Virgem.

Distante, destaca-se o Buçaco, mais para nascente o Caramulo, depois as serranias das Talhadas, as do Arestal e mais e mais até chegarmos às planícies do norte, cobertas de pinheirais, eucaliptos em densas matas, intercaladas de povoações caiadas de branco.

O panorama é vasto e tarde despertamos da muda contemplação em que nos extasiamos horas seguidas.

A belíssima poesia do grande poeta Correia de Oliveira e que aqui vai publicada, condensa, magistralmente, o conjunto de maravilhas que podemos encontrar no Bico do Monte.

O que se fez

As encostas do Monte, ali à mão, estavam cobertas de mato agreste, brotando, dentre ele, um outro pinheirito raquítico.

Manteve-se esse estado por largos anos, sendo necessário que houvesse o primeiro impulso para sair do ponto morto em que caíra.

Rasgou-se uma avenida de acesso, – abriu-se uma pequena ruela na encosta para que os veículos mais facilmente alcançassem o ponto cimeiro, – alargou-se o recinto da capela com custosas obras de ampliação e muralhas de suporte, – construiu-se uma escadaria a pequena distância da capela, – estendeu-se muito mais e alargou-se, a estrada ou Avenida destinada ao percurso da procissão, – plantaram-se árvores e cobriu-se o monte de eucaliptos e pinheiros.

Alguma coisa se fez, mas é tudo pouco.

Costumes

As procissões eram francamente concorridas e a elas nem a população da vila assistia, reservando-se para o arraial da tarde.

No dia seguinte, segunda-feira, era a festa dos moleiros, que o tomavam de sua conta para comezainas fartas.

Em 1915 e 1916 esses costumes modificaram-se, passando os albergarienses a reservar para si, especialmente, a segunda-feira, dia em que a vila se despovoa para se deslocarem ao Bico do Monte, com grandes cestos de víveres, em que predomina o leitão regional.

Também a procissão e as cerimónias religiosas na capela, tomaram, com o Padre Matos, um notável incremento, a ponto tal que o cimo do monte e a capela não comportam os romeiros de longe e que constituem multidão, acrescidos de gente da vila, que se acostumou já a assistir à procissão, em que tomam parte centenas de anjos, todos vindos de promessas à Virgem e em que os cânticos entoados por tão grande mole de crentes, a revelar a sua fé em Deus e afirmarem a sua confiança extrema na bondade divina, sempre propensa ao perdão e ao bem das almas.

A procissão é emocionante, especialmente o adeus à Virgem, que sensibiliza profundamente os mais indiferentes.

Por vezes é tanta gente que constitui a procissão que não é possível estabelecer a ordem, como seria necessário.


Estado de conservação(1950)

Compreende-se a necessidade de se manterem no melhor estado de conservação todas as estradas de ligação ao Monte do Socorro, permitindo que, em qualquer época, seja visitado e admirado. Consideramos isso indispensável.

Miradouro de observação

Acrescentaremos esta nota: - o Estado Maior do nosso Exército mandou construir sobre a capela um pequeno miradouro de observação, reconhecendo, assim, que estava em presença dum magnífico ponto estratégico.

Fonte: António de Pinho, Agosto de 1950 (adaptado; nossos intertítulos)

(Texto integral em "Monte do Socorro" / Página dos Escuteiros) (*)

Fotos: CMAV, Junta de Freguesia

(*) Inclui 3ª parte: "O futuro"

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