Em 1888, David Corazzi editava, impresso pela Tipografia das Horas Românticas, este “Álbum de Costumes Portugueses”. Para cinquenta litografias cinquenta textos distribuídos por cinco autores (…)
Ramalho Ortigão (1836-1915), dândi e crítico social, escrevia sete trechos, entre os quais a descrição de um estudante de Coimbra proveniente do Além Douro que pernoita sempre na Estalagem dos Padres de Albergaria-a-Velha, mas que no regresso já colocara no penhor as esporas, a jaleca e as botas.
Excerto
“Era pelos efeitos do chouto esquartejante (…), que o jovem aluno, vindo do Além Douro, de jaleca e cinta, botas de cava, esporas de prateleira e seis pintos no bolso, reconhecia, ao fim do primeiro dia de jornada, pernoitando na Estalagem dos Padres em Albergaria, que as ideias se lhe começavam a abrir não propriamente pelo cérebro, mas pelas vértebras falsas. (…)
Na volta pelas férias grandes era idêntico o aspecto de azémola e o de palafreneiro. Só reaparecia demudado o estudante. Esporas de prata, jaleca alamares, botas à Frederico tudo jazia no penhor de 3$600. E era em ceroulas com uma barra de chita, o gorro de uniforme na cabeça guedelhuda e uma espada à cinta, para fascinar pelo terror as populações alvoroçadas e os eclesiásticos tremiculosos da pousada de Albergaria que o académico em folga vinha espairecer, bacheralante e frascério, nas colheitas e nas vindimas da casa paterna.”
Fonte: Álbum de costumes portugueses com cópias de aguarelas originais e Alfredo Roque Gameiro et al com artigos descritivos de Fialho de Almeida et al
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