quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ramalho Ortigão descreve o Estudante de Coimbra que pernoitava na Estalagem dos Padres de Albergaria (1888)


Em 1888, David Corazzi editava, impresso pela Tipografia das Horas Românticas, este “Álbum de Costumes Portugueses”. Para cinquenta litografias cinquenta textos distribuídos por cinco autores (…)

Ramalho Ortigão (1836-1915), dândi e crítico social, escrevia sete trechos, entre os quais a descrição de um estudante de Coimbra proveniente do Além Douro que pernoita sempre na Estalagem dos Padres de Albergaria-a-Velha, mas que no regresso já colocara no penhor as esporas, a jaleca e as botas.


Excerto

“Era pelos efeitos do chouto esquartejante (…), que o jovem aluno, vindo do Além Douro, de jaleca e cinta, botas de cava, esporas de prateleira e seis pintos no bolso, reconhecia, ao fim do primeiro dia de jornada, pernoitando na Estalagem dos Padres em Albergaria, que as ideias se lhe começavam a abrir não propriamente pelo cérebro, mas pelas vértebras falsas. (…)

Na volta pelas férias grandes era idêntico o aspecto de azémola e o de palafreneiro. Só reaparecia demudado o estudante. Esporas de prata, jaleca alamares, botas à Frederico tudo jazia no penhor de 3$600. E era em ceroulas com uma barra de chita, o gorro de uniforme na cabeça guedelhuda e uma espada à cinta, para fascinar pelo terror as populações alvoroçadas e os eclesiásticos tremiculosos da pousada de Albergaria que o académico em folga vinha espairecer, bacheralante e frascério, nas colheitas e nas vindimas da casa paterna.”

Fonte: Álbum de costumes portugueses com cópias de aguarelas originais e Alfredo Roque Gameiro et al com artigos descritivos de Fialho de Almeida et al

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