domingo, 20 de novembro de 2016

Casa da Criança de Albergaria-a-Velha (Creche de Albergaria-a-Velha)


A Casa da Criança foi construída em terreno que pertencia a duas entidades: uma parte era pertença do Professor João Gomes, do Porto, que o doou à J.P.B.L. (Junta da Província da Beira Litoral), em 1953, e a outra da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, que teve o mesmo procedimento. Este foi o ano durante o qual a mesma entrou em funcionamento, tendo a sua inauguração oficial acontecido em Maio.

O financiamento foi comparticipado pelo já habitual subsídio do Fundo do Desemprego e para a sua construção contribuiu decisivamente, para além de Bissaya Barreto, a acção do Comendador Augusto Martins Pereira, filantropo e mentor da conhecida Fábrica Alba que também tomou “a seu cargo o pagamento das despesas a efectuar com as diversas reparações do edifício”, no ano de 1957.


A análise de fotografias tiradas no dia da inauguração permite perceber que o edifício não seguia pelo menos fielmente, a proposta funcional e formal de Luís Benavente. Ainda assim, é de relevar a notória (e habitual) intenção de pelo menos introduzir o azulejo enquanto elemento primordial em termos decorativos e simbólicos (nos pilares e em vários painéis), para além do seu uso enquanto material principal de revestimento.

É também absolutamente perceptível a vontade de equipar diversos espaços, nomeadamente o gabinete médico, o refeitório e o vestiário, com mobiliário de desenho moderno/hospitalar, com linhas extremamente depuradas e privilegiando a estrutura metálica tubular. Naquele tempo, estes conceitos (moderno e hospitalar) tornavam-se, sob alguns aspectos, praticamente sinónimos, e o mobiliário era, sem dúvida, um deles.


Apesar de, por exemplo, a expressão formal do volume edificado e um certo excesso decorativo no seu interior, revelarem uma concepção arquitectónica sem especiais referências à Arquitectura Moderna, a escolha e desenho dos móveis continha em si um desejo de apetrechar modernamente o edifício, tirando daí também dividendos ao nível do estatuto de um estabelecimento que certamente queria transparecer um carácter higiénico, sanitário, limpo, novo, contemporâneo, ou seja, moderno. 

Rede de casas da criança na Província da Beira Litoral


Quando, em 1937, o Estado Novo extinguiu a educação pré-escolar pública, Bissaya Barreto concebeu e planeou uma rede de casas da criança na Província da Beira Litoral. De um total de 18 Casas da Criança, três foram criadas nos anos de 1930 (em Estarreja, Vila Nova de Ourém e em Santa Clara, em Coimbra); cinco nos anos de 1940 (Loreto e Olivais, em Coimbra, Castanheira de Pera, Figueira da Foz e Luso) e dez na década de 1950 (Alvaiázere, Mealhada, Águeda, Pombal, Albergaria-a-Velha, Condeixa-a-Nova, Coja, Pedrógão Grande e Mira).

As Casas da Criança e/ou Parques Infantis, como vulgarmente eram conhecidos, acolhiam crianças até aos sete anos de idade, filhos de trabalhadores e tinham “orientação de educadoras devidamente preparadas que lhes dão as primeiras noções que servem de pedestal à sua formação, para, na vida prática, prestarem provas da sua preparação, para os diferentes cargos a desempenhar”.


Sete Casas da Criança funcionavam em edifício próprio, construído para o efeito ou adaptado. No que respeita às infraestruturas, todas tinham água canalizada, esgoto ou fossa, eletricidade e aquecimento. Apenas a de Alvaiázere não tinha aquecimento. O projeto de arquitetura apresentava o mesmo padrão, os materiais utilizados e a decoração tipo obedecia a uma mesma linha de construção.

Estas instituições incluíam um átrio, sala de espera para doentes a aguardar consulta e um consultório, um salão para as aulas das crianças, creche com berços para os pequenitos, um vestíbulo, instalações sanitárias, cozinha, sala de jantar, dois recreios e jardim. Este tipo de equipamento foi o mais numeroso e descentralizado.


Foram formadas enfermeiras puericultoras visitadoras de infância e assistentes sociais, algumas das quais vieram a assumir funções de regente e de assistente social nas Casas da Criança, Colónias, Dispensários e Hospitais e Instituto Maternal, substituindo o pessoal não qualificado, até então em funções em alguns destes serviços (1).

(1) Casa da Criança de Albergaria a Velha (1953-1954): cursos de Enfermeira Puericultora e Visitadora de Infância (EPVI) Maria Isabel dos Santos Figueiredo e Maria Margarida Coreia Tavares.

Fontes: “Arquitectura hospitalar e assistencial promovida por Bissaya Barreto” de Ricardo Jerónimo Pedroso de Azevedo e Silva / “Bissaya Barreto e a política assistencial da Junta da Província da Beira Litoral” de Alcina Martins e Maria Rosa Tomé

Colaboração: Fotos digitalizadas por Eng. Duarte Machado

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