Há quatro anos, durante a Romaria da Nossa Senhora do Socorro, no cimo do monte onde se situa o santuário (a dois quilómetros da vila de Albergaria-a-Velha), apercebemo-nos do som de uma gaita de foles. Aproximámo-nos e deparámos com quem a tocava: um homem, já idoso, que vinha acompanhado por três rapazes que tocavam caixa, bombo e pratos. ...
Foi assim que conhecemos o Sr. Zé, de seu nome completo José Nunes Vieira. Nasceu há mais de 80 anos em Frossos, onde vive ainda hoje (Frossos fica situado no Concelho de Albergaria-a-Velha).
Quem o quiser encontrar poderá perguntar pelo Sr. Zé-o gaiteiro, ou pelo Sr. Zé-o ferreiro, pois exerceu esta actividade profissional durante muitos anos.
Ainda hoje vai ocasionalmente à sua oficina onde trabalha com um velho fole de ferreiro, daqueles que “agora já são difíceis de encontrar”.
Quando o Sr. Zé era novo, antes de tocar gaita, tocava flauta, “daquelas com chaves”, acompanhado por caixa e bombo.
A sua primeira gaita de foles foi comprá-la a Taveiro, perto de Coimbra,
“a um homem que as fazia”. Esta tinha, no entanto, um senão: o fole da gaita, que era de pele, tinha previamente servido para guardar azeite, exalando por isso um odor que não agradava ao Sr. Zé.
A gaita que utiliza actualmente já foi comprá-la à Galiza. As palhetas e os palhões (que ele próprio manufactura) são feitos, respectivamente, de plástico, a partir de embalagens de iogurte, e de cana.
Além de tocar em festas e Romarias, também é contratado para fazer peditórios. Houve uma vez até que, excepcionalmente, foi contratado para tocar num compasso Pascal numa aldeia perto de Viana do Castelo. Também já tocou para animar “bailaricos”. Certa vez fê-lo tocando ao desafio com o sr. Hélio do Paço, um gaiteiro de Pinheiro, localidade vizinha de Frossos. Quando um terminava de tocar uma música o outro repetia-a e assim sucessivamente. Isto enquanto tudo dançava ao som das gaitas.
O primeiro gaiteiro que o sr. Zé conheceu foi um tio do sr. Hélio do Paço, infelizmente já falecido (o sr Hélio já vai nos sessenta e muitos). Por sua vez, o mais jovem tocador de gaita daquela zona, um rapaz de vinte e poucos anos que, como gaiteiro, merece todos os elogios do sr. Hélio, emigrou recentemente para o Canadá.
Um pormenor interessante a realçar está em que os três gigantones que tivemos oportunidade de observar, imóveis e mudos, guardados no celeiro do Sr. Zé, são da autoria do próprio, que os utiliza para animar algumas festas em que participa.
Fonte: Henrique Oliveira; Publicado em "Gaita-de-Foles" - ( revista da APEDGF ) ; nº1- Abril de 2001
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