domingo, 20 de agosto de 2017

Ligações do Partido Comunista a Albergaria-a-Velha durante o Estado Novo (anos 40)


António Gomes da Silva/"Russo", que era alfaiate e usava o nome de "Rocha" para as actividades partidárias, fazia parte do comité local de Espinho, sendo um dos diversos delegados da organização comunista que entregavam propaganda e desenvolviam essa organização em Ovar, Águeda e Albergaria-a-Velha. Para o desenvolvimento da organização contactou com Augusto de Lemos Henriques Ribeiro Pinheiro (conhecido como "Augusto da Cadeia").

"Augusto da Cadeia" era carcereiro da comarca de Albergaria-a-Velha e responsável por um "grupo" desta localidade. Por intermédio de Luís da Silva e Costa, conheceu outro que lhe dava os jornais comunistas e depois este apresentou-lhe o António das Neves Martins de Barros, a quem passou a entregar o material de propaganda.

Álvaro Correia Leite/"Barito", que trabalhava na Fundição de Albergaria-a-Velha [Fábricas Alba ?], fazia parte de uma célula comunista, conjuntamente com Germano Gomes Pinho/"Germano Serrano".


Em Dezembro de 1943 são presos membros do partido comunista nos concelhos de Ovar, Albergaria-a-Velha e Águeda.

Leandro Gomes Ferreira, ajudante de notário, afirmou no Auto de perguntas de 14 de Dezembro de 1943 (Processo PVDE nº 278/43) que era democrático e que considerava que no regime actual não existia liberdade de palavra ou religião. Tinha estado filiado no tempo da democracia no Partido Republicano Português e há cerca de 6 meses conhecera "Augusto da Cadeia" que lhe entregava os jornais que lia e rasgava, assim como lhe dava dinheiro, mas apenas o fazia por caridade porque não era comunista.

António Bernardino Tavares/"Rodas" também recebeu jornais por intermédio de "Augusto da Cadeia" e deu-lhe dinheiro mas afirmou que "não tem ideal político", embora soubesse que ele pertencia à "organização subversiva".

Henrique Marques Alexandre, médico veterinário, negou qualquer ligação ao partido comunista e confirmou que apenas recebe os jornais que "Augusto da Cadeia" lhe vende e dá dinheiro à organização comunista por caridade.

José António Lopez Novelle, comerciante, de Orense-Espanha, residente em Albergaria-a-Velha, detido para averiguação de "actividades subversivas", nos interrogatórios responde que vivia em Portugal há trinta anos e que há oito meses Augusto de Lemos Henrique Pinheiro/"Augusto da Cadeia" lhe entregou alguns jornais Avante e, embora tivesse contribuído com algum dinheiro, para auxílio das famílias dos presos políticos, não era comunista.

Fonte: adaptado de tese de Maria Filomena Rocha Lopes sobre "O Sindicalismo português entre 1933 e 1974 (em "Novos Arruamentos")

Texto integral (tese)

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