quinta-feira, 20 de junho de 2019

Linha de Caminho de Ferro do Vale do Vouga

Em 1907 concluíram-se os estudos para os primeiros 50 km de traçado [para a construção e exploração da Linha do Vale do Vouga], que prosseguiram até Albergaria-a-Velha e até ao Rio Vouga, após terem sido submetidos à aprovação do Governo.

Os jornais locais noticiaram, no espaço de um mês, três possíveis localizações para o futuro entroncamento da Linha do Vale do Vouga com o Ramal de Aveiro: o 1º perto do cemitério de Albergaria-a-Velha, o 2º em Sernada e o 3º no Carvoeiro.


No início do ano de 1908 foi desenhada a planta de pormenor do eixo ferroviário entre Albergaria-a-Velha e o Rio Vouga, ao mesmo tempo que começaram as obras no mesmo troço, coincidindo com a crescente chegada de trabalhadores e suas famílias, provocando o aumento na procura de alojamento. Existia também já uma grande quantidade de materiais de construção reunidos numa área conhecida como Vale do Minhoto, com vista ao início da abertura de várias trincheiras e de um túnel.

A 11 de junho de 1908, o Correio d’Albergaria noticiou a aprovação oficial pelo Conselho Superior de Obras Públicas e Minas da construção do 2º troço da Linha do Vale do Vouga, entre Oliveira de Azeméis e Jafafe, sem, contudo, estarem aprovadas as expropriações a fazer. De qualquer modo, o processo das expropriações já decorria em Albergaria-a-Velha desde abril desse mesmo ano.


No início de julho surgem problemas relacionados com as expropriações na área da estação de Albergaria. As oficinas originalmente projectadas para essa localização são mudadas para Jafafe ou para Sernada, onde o preço dos terrenos era menor.

Coloca-se, inclusive, a hipótese de construir apenas um apeadeiro em Albergaria, já que certos proprietários só aceitavam vender os seus terrenos por 6 vezes o valor real. Continua ao longo desse mês a indecisão acerca da localização exacta da estação de Albergaria e da sua avenida de acesso.


No início do mês de setembro avançou-se relativamente às expropriações, tendo sido assinado, no dia 10, o Decreto que aprovava a planta parcelar de expropriações a realizar em Albergaria-a-Velha e nas aldeias limítrofes. No início de outubro foi submetida à aprovação do Governo a expropriação de 42 parcelas de terreno na freguesia de Albergaria-a-Velha. Algumas expropriações foram decididas judicialmente.

No início de 1909 começa a abrandar a construção da Linha do Vale do Vouga, principalmente no troço entre a Branca (sede de freguesia a Norte do concelho de Albergaria-a-Velha) e Albergaria-a-Velha. Em Albergaria-a-Nova e mesmo na sede de concelho ainda restam muitos terrenos por expropriar. Contudo, obras de arte como a estação de Albergaria-a-Velha continuam a ser construídas a bom ritmo.


No início do mês de março, a 1ª página do Correio d’Albergaria informa que a Companhia de Caminho-de-Ferro do Vale do Vouga pretende iniciar a exploração comercial de passageiros do troço Oliveira de Azeméis – Albergaria-a-Nova (Mocho), até então apenas com serviços de mercadorias.

Para mediar os conflitos entre os proprietários e a Companhia, a Comissão Municipal de Albergaria-a-Velha promove a criação de um “grupo de distintos cidadãos”.

Horário de 1913

Em setembro, numa discussão na Câmara dos Deputados, o Deputado Rocha e Melo protesta contra a Companhia do Vale do Vouga, baseando-se numa cláusula do contrato que obrigava a Companhia a concluir a totalidade dos 176 km da Linha em três anos: entre 6 de fevereiro de 1907 e 6 de fevereiro de 1911. A cerca de quatro meses do fim do prazo, a Companhia apenas teria concluído e aberto à exploração cerca de 52 km.

A 21 de outubro alguns engenheiros franceses, com o aval da companhia, assumiram as negociações com os proprietários, resolvendo-se o processo em quatro dias.

Estava assim concluído o impasse que impedia que as obras continuassem. Iniciaram-se as demolições no centro de Albergaria-a-Velha, assim como a construção da avenida de acesso à estação.
Década de 30 (foto partilhada por Dr. Mário Jorge)
É já no fim de novembro de 1909 que se inicia uma polémica na vila de Albergaria-a-Velha, na sequência da informação sobre o facto do traçado da Linha atravessar a estrada distrital nº70, que ligava Albergaria-a-Velha ao sul do concelho e a Aveiro.

Segundo o projecto, a Companhia encontrava-se obrigada a construir um pontão, contudo iniciou a construção de um desvio da estrada sem que tenha sido aprovada ou até projectada qualquer alteração ao traçado.

Isto desagradou à população que realizou uma grande manifestação no dia 12 de dezembro, que segundo os jornais locais juntou uma grande multidão em frente ao edifício da Comissão Municipal.

Com a pressão deste levantamento popular, até ao fim de 1909, a construção do desvio dessa estrada distrital foi suspensa, tendo-se iniciado a construção de um pontão de madeira.

Década de 30 (foto partilhada por Eng. Duarte Machado)

O ano de 1910 começou com a informação da chegada da máquina balastreira ao local da estação de Albergaria-a-Velha. Todas as obras de arte nesse troço estavam concluídas, com a excepção do edifício da estação de Albergaria-a-Velha.

A 10 de fevereiro é inaugurado oficialmente o troço Albergaria-a-Nova – Albergaria-a-Velha. Depois de anos de impasse, a Linha do Vale do Vouga chegava finalmente ao fim do seu eixo Norte – Sul.


Procedeu-se, então, à conclusão do edifício da estação de Albergaria-a-Velha, que recebeu a designação de “Albergaria-Valmaior” por parte da Companhia do Vale do Vouga, designação, que além de ser considerada ofensiva pelos habitantes de Albergaria, é geograficamente errada, pois a estação localiza-se bem no centro da vila de Albergaria.

Em setembro de 1910, o comboio chegava a Sernada, então um local de considerado paradisíaco, visto que “a alta sociedade albergariense” aí se deslocava para realizar picnics.

Inauguração da Estação de Albergaria-a-Velha (1910)

Comissão Organizadora das Comemorações do 50º Aniversário do Caminho de Ferro do Vale do Vouga


Com ligações a Albergaria-a-Velha e Branca: Adelino Soares Ferreira e Joaquim Moreira Vinhas (os dois primeiros sentados, a contar da esquerda); Silvino Soares Ferreira (3º em pé a contar da esquerda) e Manuel Francisco Arede (1º em pé a contar da esquerda).

Joaquim Moreira Vinhas (natural de Guetim, Espinho, mas radicado em Albergaria-a-Velha) é pai de José Vinhas e das professoras Lídia e Clara.

Manuel Francisco Arede (de Açores, Valmaior) foi o grande dinamizador da construção do cemitério português de Richebourg l'Avoué para os antigos combatentes da 1ª Guerra mundial.

Silvino Soares Ferreira foi chefe da Estação da CP da Branca e mais tarde empresário - Produtos Flexicol.

Joaquim Moreira Vinhas foi o autor da "Monografia do Vale do Vouga" lançada por ocasião do 75º aniversário (1908-1983).

Comemorações do 75º aniversário do Vale do Vouga (1908-1983)


Fonte: "O Crescimento, o Apogeu e o Declínio de Sernada do Vouga" de João Miguel Ferreira Tomás (adaptado)

Informações adicionais: Correio d' Albergaria / Gazeta do Caminho de Ferro / Grupo de facebook "Famílias de Albergaria"/ wikipedia

1 comentário:

dfr disse...

Curiosamente na edição de 3 de Julho do Correio de Albergaria tem um artigo de opinião de Paulo Almeida - pauloalmeidajornalista@magil.com - ligado a este tema: "Em Albergaria o poder local nunca tomou posição sobre a degradação da linha do Vale do Vouga". Acho que seria interessante colocar esse artigo, no todo ou em parte, porque como é referido os partidos políticos nem se conseguem entender sobre o que fazer à estação ferroviária. Fica aqui a sugestão.